A transmissão taoísta Porta fechada e porta aberta
Monge Xin Shan
Tradicionalmente no taoísmo existem duas denominações para referir-se a transmissão dos ensinamentos. Denominamos portas abertas, todos os ensinamentos introdutórios ou que são livremente transmitidos ao público. Denominamos portas fechadas os ensinamentos que somente são transmitidos a discípulos iniciados.
Na antiguidade os ensinamentos eram mais restritos, sendo que os mestres ensinavam a poucos discípulos. Com o passar dos séculos este aspecto foi mudando, mas não muito. O mestre transmite os ensinamentos em minúcias aos discípulos iniciados e muitas das vezes o discípulo mais velho é encarregado de transmitir aos mais novos.
Existem milhares de tratados e clássicos taoístas que contem os ensinamentos avançados da alquimia interior e demais métodos para a realização da união com o Tao. Estes escritos estão à disposição para qualquer pessoa. Entretanto não são fáceis de interpretar.
Os ensinamentos estão escritos em forma de parábolas, metáforas e simbolismos diversos. Usam situações da vida humana, elementos da natureza, citações astrológicas, animais, etc, para descrever os métodos.
Isso torna os textos ilegíveis, as pessoas não conseguem decifrar o que querem dizer. Por isso a necessidade de um mestre para interpretá-los. Na China pude observar a facilidade com que alguém pode adquirir um tratado taoísta. Existem publicações disponíveis a quem quer que possa comprá-las, e o preço é bem irrisório. As bibliotecas nos monastérios também podem ser consultadas. Entretanto sem um mestre treinado nos significados dos escritos, a leitura dos mesmos não conduz a lugar algum.
Os mestres receberam seus conhecimentos e treinamentos de outros que preservaram os claros entendimentos e significado dos clássicos e tratados. Por isso podem transmitir o significado claramente e de maneira simples.
Para que alguém receba os ensinamentos é preciso que esteja verdadeiramente compromissado com o cultivo. Os mestres usam este pré-requisito para avaliar as pessoas que pedem seus ensinamentos.
Para obter o conhecimento dos métodos é preciso ser iniciado por um mestre e também ser sinceramente dedicado ao cultivo do Tao. Para os que não estão dedicados ao cultivo os mestres não estão dispostos a interpretar os textos. O caminho taoísta não é acumulo de informações é cultivo.
Ensinamento coletivo
Atualmente existem sessões de ensinamentos onde se reúnem um grande número de pessoas. Estas pagam determinado honorário e participam facilmente dos ensinamentos. Os mesmos são transmitidos usando modernas mídias tais como slides, filmes e fotos. Os mestres aprenderam a usar a tecnologia para ilustrar a interpretação dos antigos ensinamentos.
Apesar de as pessoas poderem estar ali para ouvir a interpretação dos ensinamentos, somente aqueles que estão compromissados solicitam o acompanhamento do mestre. Apesar de milhares de pessoas participarem das conferencias, é preciso que após a mesma sejam acompanhadas no processo do cultivo ao longo dos anos.
Existem nesta multidão aqueles que se tornam discípulos e aqueles que se tornam alunos. Alunos são temporários junto ao mestre e discípulos são vitalícios. O mestre está a disposição para todos os que fizeram o curso. Ele se propõe a acompanhar as experiências e processos pessoais daqueles que o procurarem para tal.
Participar do curso não é o suficiente, pois o cultivo taoísta é uma experiência viva um processo de vida. Por isso a necessidade de orientar experiência com experiência e não apenas obter informações intelectuais. O mestre se propõe a orientar através da experiência.
Atualmente os mestres viajam para muitos países ministrando cursos. Os estudantes desses países devem criar um laço vivo com os mestres para alcançarem sem dúvidas e equívocos progresso e aprofundamento no cultivo dos métodos aprendidos.
Apesar dos ensinamentos taoístas estarem sendo expostos em cursos abertos a todos atualmente, somente poucos conseguem real progresso no cultivo. Muitos apenas restringem-se ao entendimento intelectual do ensinamento. Não compartilham com o mestre suas experiências. Embora atualmente os ensinamentos sejam transmitidos dessa maneira, eles ainda continuam sendo portas fechadas e portas abertas.
Ao explicar determinado método o mestre está orientando como deve ser realizado o cultivo. Essa é uma parte importante do processo. A outra etapa é a continuidade do aprofundamento que só pode ser transmitido com vinculo pessoal com o mestre. Sem este vínculo estabelecido apesar de terem recebido as devidas interpretações dos textos, não se consegue progredir. As experiências vividas são a continuidade da assimilação intima do sentido transcendente e simples do ensinamento. Somente de coração para coração pode ser aprofundado determinado método.
Ao longo da vida inúmeras experiências precisaram ser orientadas com clareza e simplicidade. Somente alguém dotado de experiência pode orientar a experiência de outro. Existe uma rede de mestres interligados e ricos em experiências. Ter acesso a essa congregação depende de sincero compromisso de cultivo. Os mestres não são eruditos dotados de uma grande gama de informações intelectuais. Eles dedicam-se aos principais métodos de alquimia interior.
Os mestres no taoísmo não devem ser considerados com aquele estereótipo de pessoa perfeita ou santa. Precisam ser vistos e considerados como seres inspirados. No taoísmo não olhamos para os mestres com considerações semelhantes ao olhar da Índia e demais outros países que colocam os mestres como seres divinos perfeitos e sem equívocos.
No taoísmo o mestre é olhado com mais realismo e simplicidade. O mestre é alguém compassivo e amoroso que se dispõe a transmitir o conhecimento, realizando isso por meio de sua própria experiência.