Filosofia Taoísta
Filosofia Taoísta

Filosofia Taoísta

  • Do Caminho surge um (aquele que está consciente), de cuja consciência por sua vez surge o conceito de dois (yin e yang), dos quais o número três está implícito (céu, terra e humanidade); produzindo finalmente por extensão a totalidade do mundo como o conhecemos, as dez mil coisas, através da harmonia das Wuxing. O Caminho enquanto passa pelos cinco elementos do Wuxing é também visto como circular, agindo sobre si mesmo através da mudança para simular um ciclo de vida e morte nas dez mil coisas do universo fenomênico.
  • Aja de acordo com a natureza, e com sutileza em lugar de força.
  • A perspectiva correta será encontrada pela atividade mental da pessoa, até chegar a uma fonte mais profunda que guie sua interação pessoal com o universo (veja 'wu wei' abaixo). O desejo obstrui a habilidade pessoal de entender O Caminho , moderar o desejo gera contentamento. Os taoístas acreditam que quando um desejo é satisfeito, outro, mais ambicioso, brota para substitui-lo. Em essência, a maioria dos taoístas sente que a vida deve ser apreciada como ela é, em lugar forçá-la a ser o que não é. Idealmente, não se deve desejar nada, "nem mesmo não desejar".
  • Unidade: ao perceber que todas as coisas (inclusive nós mesmos) são interdependentes e constantemente redefinidas pela mudança das circunstâncias, passamos a ver todas as coisas como elas são, e a nós mesmos como apenas uma parte do momento presente. Esta compreensão da unidade nos leva a uma apreciação dos fatos da vida e do nosso lugar neles como simples momentos miraculosos que "apenas são".
  • Dualismo, a oposição e combinação dos dois princípios básicos Yin e Yang do universo, é uma grande parte da filosofia básica. Algumas das associações comuns com Yang e Yin, respectivamente, são: masculino e feminino, luz e sombra, ativo e passivo, movimento e quietude. Os taoístas acreditam que nenhum dos dois é mais importante ou melhor que o outro, na verdade, nenhum pode existir sem o outro, porque eles são aspectos equiparados do todo. São em última análise uma distinção artificial baseada em nossa percepção das dez mil coisas, portanto é só nossa percepção delas que realmente muda.

 

Tao Te Ching e Wu Wei

O Tao Te Ching de Lao Zi é uma das pricipais referências para a compreensão do pensamento chinês.

Se entendermos bem a natureza das coisas e conseguirmos esquecer tudo o que aprendemos que tenta ir contra ela, conseguimos fazer tudo o que é possível, com o mínimo esforço. Porque acabamos por deixar as coisas seguirem o seu curso natural. Não fazemos nada (claramente por nossa vontade própria) mas nada fica por fazer.

Na busca do conhecimento, todos os dias algo é adquirido,
Na busca do Tao, todos os dias algo é deixado para trás.

E cada vez menos é feito
até se atingir a perfeita não-acção.
Quando nada é feito, nada fica por fazer.

Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.
E não interferindo.

Tao Te Ching 道德經 (Cap.48)

Devemos agir de acordo com a nossa vontade apenas dentro dos limites da nossa natureza . Devemos usar o que é naturalmente útil e fazer o que espontaneamente podemos fazer sem interferir na nossa natureza. A felicidade é essa «não-acção» perfeita (wu wei 無為 ).

Para conseguirmos entender o curso natural das coisas e seguirmos o Caminho temos que conseguir desaprender muitos conceitos. Para os podermos desaprender é preciso que antes os tenhamos aprendido. Mas temos que passar a um estado muito parecido com o estado inicial em que estavamos antes de o termos aprendido.

Se abrirmos os olhos de repente, há um brevíssimo momento durante o qual o nosso cérebro ainda não analisou o que está a ver. Ainda não distinguiu as cores e as formas nem descodificou o que se está a passar à nossa frente. Os taoistas procuram viver o mais perto possível desse estado. É uma renúncia à análise, sempre imperfeita, da realidade.

A coisa mais macia e flexível no universo

E só o que não tem substância (e não existe)
pode entrar onde não há uma fenda por onde entrar.
É essa a vantagem da não-acção.

Mas poucos entendem o ensino sem palavras
E os benefícios da não-acção.

Tao Te Ching
道德經 (Cap.43)

Comentário: Quando a água que corre no leito de um rio encontra uma rocha no seu caminho, cede sem resistir e ajusta-se a ela de um modo tão perfeito que ultrapassa esse obstáculo e segue o seu caminho com a mesma facilidade que teria se ele não existisse. E, contudo, «água mole em pedra dura tanto dá até que fura».

É fácil manter a estabilidade enquanto as coisas estão estáveis.
É fácil lidar com as coisas enquanto elas não mostram sinal de irem mudar.
O que é frágil é fácil de quebrar, o que é pequeno é fácil de dispersar.
Mas há que pôr as coisas em ordem antes de haver confusão.
Porque as coisas se podem transformar nos seus opostos.

Uma árvore do tamanho do abraço de um homem começa por ser pequena.
Uma torre de nove andares começa por ser um monte de terra.
Uma viagem de mil léguas começa num passo.

Encarrega-te dos problemas antes deles surgirem.
Assim, evitarás ter depois de agir.
As dificuldades são facilmente superadas antes de começarem.

Aquele que age pode complicar a obtenção do que pretende.
Aquele que agarra as coisas, perde-as.
Quem é sábio não faz nada de errado porque não age.
Não se prende a nada e, por isso, nunca perde nada.

Tao Te Ching
道德經 (Cap.64)

Um estado deve ser governado com a justiça normal.
Uma guerra deve ser gerida com golpes de surpresa fora do normal.
Mas o mundo deve ser controlado sem forçar, pela não-acção.

Como sei eu que é assim?
Porque quanto mais decretos proibitivos existirem,
Maior será a pobreza do povo;
Quanto mais armas existirem, maior será a desordem;
Quanto mais engenho e técnica existirem,
mais estranhos produtos aparecerão;
Quanto mais regras e regulamentos,
mais ladrões e bandidos haverá.

Por isso o sábio diz:
Não farei nada e as pessoas transformar-se-ão por elas próprias;
Contentar-me-ei com ficar quieto e as pessoas ficarão honestas;
Sem me preocupar com isso, as pessoas enriquecerão;
E, sem que eu o deseje, terão uma vida boa,
Voltando à simplicidade primitiva.

Tao Te Ching
道德經 (Cap.57)